Assim nascem os textos... Sem avisar... Bater na porta, ou mandar recados... Não se mostram, apenas chegam, e chegando não findam... São perenes, reais e eternos...

Por: Beth Brito

quinta-feira, março 11, 2010

Até certo ponto



" Sob a pele escura
Ele afirma ter alma também
Não compreende o que é saudade
Mas tem saudade de alguém"


Enlaçado com a mão direita à cintura de "senhorita" e com a mão esquerda suspende as longas mechas negras... E a suga inteira.
O mulato era um exímio recém chegado de longe. Um quase preto, que com seu cheiro de macho, enfeitiçou-a, ensinando-a todos os truques na cama "desse nosso século" dinâmico e trepidante. Ninguém pode deter essa máquina de fazer "sexo". - Ele é o melhor! Pensa "senhorita", onde a maior parte de suas imaginações tão desejadas, fica do lado de dentro... Mas ele as advinha todas... Realizando-as...
É assim que acontece algumas noites, manhãs e tardes, também nos fins de semana... sempre quando ela "pode".
- Mas isto é loucura! Exclamou "senhorita". Não tem hora, nem dia, não tem nexo! Sorriu mulato e replicou: - Tem sexo!
As vezes parava admirado, olhando-a diante do espelho acima... Onde uma lágrima descia desconcertada e tímida, indo esconder-se no travesseiro branco.
Em torno de que? Onde? Como isso foi acontecer? Como explicar tamanha emoção? Busca, mas não encontra uma explicação. Tirava suas próprias conclusões a respeito de "senhorita", debruçada nua na cama.
- Preciso deixar de beber nessa fonte. Imaginava mulato consigo. Traçava um rígido programa de vida... E toda uma projeção de expectativas a partir daquele caso, ou sobremesa?
Talvez necessitase mulato, um grande amor, desses que fazem um homem consumir-se como uma sarça ardente...
Numa noite, das tantas outras, quando abandonava-se em devaneios na cama, olhando "senhorita! perguntou-a:
-Me amas?
Longamente, se olharam, e ela o respondeu:
- Até certo ponto.
De repente, mulato tomou consciência dolorosamente da ilusão em que nos últimos tempos vivia, onde apenas dois sonhavam: Ele e seus desejos, hóspedes dentro de sua própria casa.
- Estás ou não comigo?
Insiste ele.
- Até certo ponto estou contigo. Não tens o domínio sobre a natureza insana da pele, do corpo... Do meu corpo. Minha liberdade me tem e me domina por completo, e um homem me domina "até certo ponto". Concluiu "senhorita" sem nem mais um único sonhar nessa teoria do homem total.

Beth Brito
2009.

Texto premiado em Aracaju - SE, Janeiro de 2010.
Obrigada a todos os companheiros e amigos da Literatura regional, beijos e abraços a todos.

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